data-filename="retriever" style="width: 100%;">"Senhor juiz. Não lhe conheço pessoalmente, mas soube que o senhor está decidindo o futuro da minha família. Papai e mamãe não querem mais viver juntos. Eles disseram que o casamento deles terminou e vão deixar de ser marido e mulher. Falaram ainda que o senhor vai decidir com quem devo morar. Estou muito triste com isso, mas soube que os adultos, às vezes, têm dificuldade de resolver as coisas e não conseguem ser felizes, assim, resolvem buscar outros caminhos.
Queria pedir que o senhor fizesse meus pais compreenderem que eu não tive culpa pelas coisas não terem dado certo. E também que eu não pretendo me separar deles. Acho que tenho, dentro de mim, metade de cada um, assim não posso me dividir. Quero ter a companhia dos dois sem que isso cause mais problemas entre eles.
A minha professora explicou que isso se chama "guarda compartilhada" e que se os meus pais quiserem, ou se o senhor decidir, posso continuar convivendo com eles sem ter que escolher um como "titular" e o outro como "reserva. Posso até ter duas casas!
O senhor nunca me viu, mas algumas pessoas já vieram conversar comigo a seu pedido, assim, descobri que o senhor sabe que eu existo. Sei, também, que o senhor mandou que eu ficasse com minha mãe e visse meu pai em finais de semana alternados. Acontece que, às vezes, eu tenho vontade de ver meu pai durante os dias úteis e estar com minha mãe em outros finais de semana. Só que eu não posso dizer isso, porque eles ficam tristes e até zangados um com o outro. Nem sei como será no dia do meu aniversário.
Quero lhe pedir que o senhor tenha encontros mais seguido com os dois. Parece que eles o respeitam muito. Sinto que a sua palavra e seus conselhos são como as de um "pai emprestado" e suas decisões são muito respeitadas.
A minha professora contou que a história da minha família está num caderno no seu gabinete. Eu gostaria de encapá-lo com um reluzente papel para que ele não fosse esquecido no armário. Também falou que o senhor vai decidir o fim dessa história, ajudado por outras pessoas, entre elas, os advogados de meu pai e de minha mãe.
Senhor juiz, faça com que todas essas pessoas que estão lhe ajudando não tornem isso uma competição, e que elas entendam que nessa história não existem heróis, nem bruxas malvadas, nem devem ter vencedores de uma disputa.
Nesse final de história, todos devem ganhar e, especialmente, as crianças que precisam tanto do amor e da convivência dos seus pais. Acho, senhor juiz, que se a nossa história não for bem resolvida, daqui alguns anos, eu estarei contando outra parecida para o senhor resolver, e talvez, o meu caso seja mais triste ainda. Confio no senhor. Com muito carinho e sinceridade..."
Escrevi esse texto em 2014, inspirada em um caso real. Passados mais de sete anos, a realidade pouco mudou, mas a esperança permanece para que mais juízes e seus "auxiliares" ajudem a escrever um final feliz em cada "história" que lhes forem apresentadas, com empatia e boa vontade.